quinta-feira, 3 de julho de 2008

Jornalismo de verdade... para quando?

Às vezes pergunto-me se estou na profissão certa. Custa-me pensar que aquilo por que sempre lutei possa não ser efectivamente aquilo que sempre desejei. É que, de certa forma, o sonho já foi atingido. Já sou jornalista. E agora? Devo continuar a viver o sonho que é incapaz de me trazer a felicidade que eu achei que teria?
É óptimo ter conseguido o que já consegui. Mas, primeiro, não estou na área que me dá mais prazer. Gosto mesmo é das reportagens, da investigação, de estar ao serviço da informação relevante e desprendida de interesseiros. O que me acontece neste momento está longe disso. Nem trato assuntos que me entusiasmem, nem posso olhar as coisas com objectividade. Tenho pessoas por trás que me obrigam a transmitir determinadas opiniões que não são as minhas.
Quando conseguirei fazer jornalismo em vez de publicidade mascarada de jornalismo? Ensinaram-me o que era o jornalismo na teoria. E, agora que, supostamente, sou jornalista, não me deixam fazer esse tal de jornalismo. Se isto for sempre assim, então fui enganada durante anos.
O salário é miserável, não tenho direito a subsídios, nem sequer a um plano de saúde. Acho que o que faço é mau. Não gosto do que faço aqui. Quero ver se me aguento, mas é que já não estou a aguentar-me... Será difícil conseguir um trabalho em que se pratique jornalismo de verdade?
Às vezes, fico a pensar que o jornalismo que procuro não existe. É aí que entro num dilema: obter mais formação para conseguir ser uma verdadeira jornalista que não sei se alguém algum dia me vai deixar ser, ou deitar tudo a perder, desistir de tudo e mudar de área. Mas para que área? Se eu não for jornalista, o que será que posso ser? Não me ocorre nada. Por isso, acabei de investir em mais formação. Mas vou com muito medo. Porque sei que a luta para atingir um jornalismo decente pode ser longa e esgotante. Porque sei que, a qualquer momento, posso decidir-me a desistir de vez desta farsa. A ilusão passou a desilusão. Ou se acabam os interesseiros, ou, então, para mim não dá. Só gostava de poder ser honesta, caramba!
Infelizmente, o jornalismo está em crise. São retirados direitos aos jornalistas a cada dia que passa. A liberdade de expressão (consciente) ainda é um mito. Mas tenho esperança que haja órgãos de comunicação que consigam dar a volta a isto tudo... Tenho fé que a nova geração de jornalistas se imponha e se una para alcançar um jornalismo desinteressado, ao serviço do direito à informação, apenas ao direito à informação.
'Bora mandar estes todos para o desemprego e partir do zero para reconstruir o funcionamento do jornalismo? Torná-lo o "quarto poder" insubmisso aos outros poderes?
Desculpem se divaguei...

2 comentários:

MS disse...

Não divagaste. Disseste exactamente aquilo que me vai na alma. Por isso, amiga, não estás sozinha nessa luta por um jornalismo de verdade.

Aquilo que aprendemos em teoria não existe na prática. Quanto a isso, batatas, como se costuma dizer. Acontece que nós podemos mudar as merdas que se fazem hoje. Sim, eu acredito que podemos. E temos de o fazer, mais cedo ou mais tarde.

Mais formação é sempre bem vinda. Eu própria já apostei e vou apostar ainda mais. Quanto à área onde apostar...enfim, para mim a comunicação é onde me sinto um peixe na água, por isso algo como medicina está fora de mão. Mas há várias maneiras de comunicar, de informar, sem ser no jornalismo. Pelo menos eu quero acreditar que sim, e que serei capaz de as usar, porque senão estou perdida. Quero ter qualidade de vida, como o comum dos mortais. E às vezes penso que os jornalistas de hoje, a média guarda (a velha ainda tem os nossos ideais, acho), não são comuns mortais. São parvos, só.

i disse...

bem, Helga, esse texto bateu no ponto. estou ctg nessa luta angustiante. se ao menos soubesses q, depois do esforço, iamos chegar lá. mas nunca teremos essa garantia...